A palavra sextou perdeu o sentido porque amanhã sabadou, depois de amanhã domingou e quando chegar a segunda-feira, segundou. Os guias de arte e espetáculos dos jornais não existem mais, foram transformados em uma página dentro do jornal e hoje insistem que vai ter Páscoa sim, com chocolate e tudo mais. Sei não! Será que algum vizinho está perguntando “o que vamos comer no domingo de Páscoa?” Arroz com feijão está bom demais. Meus vizinhos são silenciosos e nem aparecem na janela para cantar como vi na Itália e no Rio de Janeiro, dando os parabéns para um garoto que fazia oito anos. Por aqui, quando chega a noite, poucos se animam a bater panelas e quando batem gritam fora Bolsonaro, assassino, nazista, miliciano ou Bolsonaro acabou, lá longe. Depois volta o silêncio. No meu escritório, antes mesmo de botar os pés já vejo trabalho na tela do computador, de longe. Não para nunca. A televisão fica ligada o dia inteiro. Já pareço íntimo dos apresentadores, dos comentaristas e dos repórteres da GloboNews e da CNN Brasil, os dois canais que fico pra lá e pra cá até começar o JH. Desconfio que a Julia Duailibi, o Valdo Cruz, o Otávio Guedes moram na GloboNews. O Gottino, esse sim, mora na CNN Brasil, não é possível, virou cenário. Espero o porteiro subir com a Piauí de abril que trás o Bozo na capa, fazendo malabares com o coronavírus. Ele vai trazer também o quarto livrinho de uma coleção que estou comprando para o meu neto Raul: Hansel and Gretel, em bom português, João e Maria. Dezessete horas tenho de apresentar o Jornal do Fim da Tarde, ao vivo daqui mesmo, da minha quarentena, do meu confinamento, da minha prisão domiciliar.