Nada mais atual que o poema José, de Carlos Drummond de Andrade, que apresentamos na festa de formatura do Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte. Era tempo dos jograis e nós subimos no palco com o bumbum cheirando a talco e perguntamos pra distinta platéia: E agora, José? Hoje acordei no meio da madrugada, fiquei alguns minutos com os olhos abertos na escuridão e resolvi dar adeus a 2020. A festa acabou, o ano acabou. E agora, José? O carnaval já foi tenso, já não teve ovo de páscoa de Kopenhagen, não vai ter Dia da Mães, Dia dos Pais em agosto, nada disso. O centenário aqui em casa já esquecemos: Eu setenta e minha filha trinta. Não vai ter a Flip, não vai ter a festa dos empreendedores da Folha, não vai ter o Ciro de Nazaré, não vão ter os encontros do Sempre um Papo, não vão ter renas flutuando nos shopping center, crianças chorando no colo do Papai-Noel, sequer amigo secreto ou festa da firma. Não vai ter Prêmio Jabuti, Miss Brasil, apenas o concurso da garota Totalmente Demais na televisão está, por enquanto, mantido. Já enterramos Moraes Moreira, Luiz Alfredo Garcia-Rosa, Rubem Fonseca, Nené da Portela, Nirlando Beirão, Flavio Migliaccio, Aldir Blanc. Chega! Adeus ano velho, feliz ano novo!
[ilustração Obra de Gregório Gruber]