Geralmente os filmes são água com açúcar, estudantes americanas apaixonadas, numa saia justa entre um e outro. Mas a tarde de sexta-feira não foi igual aquela de quinta que passou. Ouvia-se puta que o pariu, sacanagem, porra, bosta, estrume, foder no meio da tarde, sem aquele aviso no cantinho da tela indicando 18. O filme foi finalmente liberado, sem cortes, sem bolinhas pretas da laranja mecânica, sem piiiis, sem tarjas nos olhos, sem voz de pato, sem imagens fora de foco. O filme A Reunião foi finalmente exibido, teoricamente para um povo que deveria estar todo em casa e as ruas vazias como uma obra de Gregório Gruber. Foi de graça, até mesmo o sinal das TVs à cabo, pagas, estavam abertos para visitação pública. Os atores eram de quinta e o filme parecia ter sido rodado na boca do lixo. A única atriz mulher gritava chamando a atenção do ator que interpretava o mocinho Nelson Teich, alertando-o que estava rodeado de feministas loucas pra liberar o aborto. Não tinha script o tal filme que passou na Sessão da Tarde de sexta-feira, 22 de maio de 2020. Filme ruim, filme triste que me fez chorar, como cantava o Trio Esperança nos idos dos anos 1960. O ator principal parecia um cafajeste de pornochanchada. Que tragédia foi essa que desabou sobre nós? A Sessão da Tarde acabou de repente, quando todos levantaram e foram-se embora. E nós, pobres mortais, fomos também embora, sem comer pipoca, sem saber como esse filme vai acabar.
[ilustração/Obra de Gregório Gruber]
Gostei. Conseguiu ser crítico e criativo. Ágil sem ser fútil. Enfim: um comentário irônico sobre um filme de terror.