Li recentemente que está difícil para quem vive em confinamento, se concentrar e ler um livro. A reportagem mostrava que o vírus que está no ar, não deixa o confinado deitar na rede, sentar no sofá, na cadeira, abrir um livro e ir absorvendo página por página. Menos de um minuto depois de ler as primeiras linhas, lembra que se esqueceu de tirar a carne do congelador, de acrescentar o sabão líquido na lista do supermercado, de limpar o pó gorduroso acumulado em cima da geladeira, de escolher uma foto para postar no #tbt da quinta-feira. Antes de começar a ler o livro, resolve ler, antes, a crônica do Antônio Prata de domingo na Folha que separou pra ler mais tarde, depois de lavar o box do banheiro. Quando ele deita na rede e vai se ajeitar, percebe que a hortinha está seca e precisa de água. Rega o hortelã, o tomilho limão, o alecrim e a salvia. Ai vem aquela vontade de tomar um cafezinho quente, quando lembra que precisa colocar na lista do supermercado, o açúcar mascavo que está no fim. Finalmente pega o livro Van Gogh, a vida, de Steven Naifeh e Gregory White Smith e começa a ler. Tem 1.096 páginas pela frente e não vai parar tão cedo. Nem mesmo para apagar a luz do banheiro que esqueceu acesa.